quinta-feira, 16 de abril de 2015

Como os app's junto aos novos meios de comunicação interagem com a sociedade

Mc Luhan não viveu na época dos aplicativos de celular. Mas desde lá, questionava as mudanças culturais geradas pelos novos meios de comunicação. Em duas de suas teorias, podemos colocar os app's como exemplo. Vamos entender porque o termo "rede social" não é correto e o que liga a teoria da Convergência ao tema do blog. Isso tudo ocorrendo por meio da internet e das novas mídias. 

Novas mídias são, necessariamente, digitais. Ser digital é o que as difere das velhas (analógicas). O que muda no digital é sua forma de armazenar e transportar as informações; o analógico impregna a informação em um suporte físico para poder ser reproduzida, enquanto o digital transforma qualquer informação em um código binário, que utiliza apenas os números 0 e 1 para tudo, em diversas combinações. Por serem digitais, aplicativos são nova mídia. Quando digitalizamos algo, roubamos dele sua materialidade e o colocamos no ciberespaço.

"O ciberespaço é definido como um mundo virtual porque está presente em potência, é um espaço desterritorializante. Esse mundo não é palpável, mas existe de outra forma, outra realidade. Não podemos, sequer, afirmar que o ciberespaço está presente nos computadores, tampouco nas redes, afinal, onde fica o ciberespaço? Para onde vai todo esse “mundo” quando desligamos os nossos computadores? É esse caráter fluido do ciberespaço que o torna virtual", divaga Silvana Drumond Monteiro no seu artigo "O Ciberespaço: o termo, a definição e o conceito"

E se Luhan não previa o mundo permeado de aplicativos como hoje, não poderia imaginar que já estão em processo de produção as chamadas 'Tecnologia de Sexto Sentido' (TED), onde seremos capazes de interagir com imagens projetadas como se fosse uma tela de toque (repare na imagem abaixo). Para isso, são necessários: uma mini-câmera, um aplicativo com capacidade de processamento de imagens e sensores com funções diferentes para cada dedo. 

E se esse é considerado o futuro da tecnologia, o futuro dos aplicativos não fica atrás. Também chamados de 'Aplicativos de Sexto Sentido', esse app's do futuro tomariam decisões, sem nossa interferência, com base no contexto de cada usuário e seus padrões de comportamento. A identificação do perfil seria feita através dos modernos sensores e processadores já disponíveis nesses dispositivos. Por exemplo, ele poderá identificar se o usuário está em um ritmo que o fará chegar atrasado à algum compromisso. Emitirá, então, um alerta e o usuário decide se quer andar mais rápido ou não, enquanto o app avisa às pessoas do seu atraso por uma interface de voz.


Pravna Mistry é um estudante indiano do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e tem como projeto o "SixthSense", que podemos definir como sendo um computador com o qual acessamos as informações com gestos manuais. 

A famosa frase do teórico da comunicação: "O meio como extensão do homem" reflete bem a atual 'necessidade' que temos de andar sempre com o celular no bolso / mochila / mão. Um estudo realizado em 17 países mostrou que 38% das pessoas preferem esquecer a carteira ou a chave de casa do que o celular. Isso porque os aplicativos são a extensão da nossa memória*, nossas relações sociais** e também dos nossos sentidos de visão e audição***.
* Exemplo de aplicativos: Evernote, Google Agenda, ColorNote, etc. 
** Exemplo de aplicativos: Whatsapp, Facebook, Instagram, Twitter, etc. 
*** Exemplo de aplicativos: Museu do Louvre, Palco MP3, Instagram, etc. 

O filósofo traz, ainda, o conceito de Aldeia Global. Com a evolução das tecnologias de informação e comunicação, a ligação entre as pessoas romperia o espaço, fazendo com que ficássemos informados sobre o que está acontecendo 'do outro lado mundo'. Igual a uma pequena aldeia, onde todos se conhecem e qualquer acontecimento ganha uma dimensão global. 

Quando criou esse conceito, Luhan se referia, principalmente à televisão, mas podemos adaptá-lo atualmente e entender os aplicativos (principalmente, as redes sociais) como potenciadores dessa Aldeia, visto que estamos o tempo inteiro conectados através dos nosso celulares.


Nos anos 90, surge o termo Cocooning para designar uma maneira de viver longe da socialização. Hoje, o Telecocooning aponta novas tendências das pessoas se relacionarem, conviverem e consumirem de maneira encasulada, porém sem estarem, necessariamente, dentro de casa. Esse modo de vida se expande a maneira que os recursos tecnológicos (home theatres, DVDs, desktops, laptops, celulares) trazem o cinema, a comunicação interpessoal e as relações de trabalho para dentro de casa.

A antropóloga Mizuko Ito aponta o papel crescente que o celular vem assumindo entre a juventude japonesa. Ela relata casos de jovens casais que mantêm contato constante, o dia todo, graças ao acesso a diversas tecnologias móveis. Para Henry Jenkins (você vai entender mais sobre nestante), esse é um caso evidente de Telecocooning. Eles estão sempre juntos emocionalmente, mesmo não estando próximos fisicamente. Estão encasulados entre si, apesar de não estarem dentro de casa.



De acordo com a teoria dos meios como extensão do homem, o rádio e o telefone seriam extensões da nossa audição, enquanto a TV seria extensão da nossa visão (apesar de não estar representado, a TV também é extensão da nossa audição).

Ninguém tem apenas um aplicativo no celular. Até porque, cada um serve apenas para cumprir uma função específica e precisamos (e queremos, cada vez mais) realizar várias atividades ao mesmo tempo. Nossos celulares comportam, então, as mais diversas funções; algumas intrínsecas ao aparelho e outras que adquirimos quando baixamos nossos aplicativos. Objetos como rádio, calculadora, GPS e câmera fotográfica estão compactados num mesmo dispositivo. 


Henry Jenkins chama essa fusão de mídias como um dos fenômenos da Cultura da Convergência. A teoria tenta entender a nova relação do público, incentivado a procurar novas informações, com os meios de comunicação que, por sua vez, tendem a convergir para apenas um aparelho (entenda melhor nas imagens abaixo). A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e entretenimento.

Essa é uma mutação cultural, por isso, não podemos entendê-la apenas pelo sentido da tecnologia. Para o autor, a convergência não ocorre por meio de aparelhos, mas dentro dos cérebros dos indivíduos e em suas interações sociais. As ilustrações abaixo foram retiradas do vídeo 5 Conceitos de Henry Jenkins. Vejam a relação de Jenkins com os aplicativos.


Convergência das mídias: as mídias atuais estão interagindo com as velhas de forma cada vez mais complexa, ao invés se substituí-las. Nesse processo une-se as múltiplas funções dentro dos mesmo aparelhos. O celular e seus aplicativos são uma poderosa demonstração dessa conversão.

Broadcasting / One to Many: apenas uma opção de produto (informação também é um produto) para ser consumido por usuários. Narrowcasting / Many to Many: várias opções de produtos de nicho, para contemplar as necessidades de pessoas diversas, lhes dando opções de escolha. A internet, é um exemplo de narrowcasting, contra o modelo de comunicação em massa do broadcasting.

Economia Afetiva: economia alimentada pela venda de objetos ligados a séries de TV, histórias em quadrinho, filmes, etc. O público são os fãs dessas obras. Não é uma novidade das novas tecnologias, mas vem se intensificando por causa delas. Veja o exemplo da loja online da banda O Teatro Mágico, que vende produtos com a temática da banda.

Narrativa Transmidiática: partes de um conteúdo espalhado em diversas mídias, de forma que a narrativa só se completa quando se passa por todas, como um quebra-cabeça. Pressupõe dos consumidores uma postura ativa, perseguindo os pedaços de informação e comparando suas observações com outros fãs. Esse tipo de narrativa ocorre desde a formação da cultura de massa, mas as novas tecnologias proliferam esse modelo. Podemos usar como exemplo o aplicativo de celular do filme Velozes e Furiosos 7 que faz parte das estratégias publicitários de lançamento do filme.
Spoilers: fãs que estão incessantemente em busca de novas notícias sobre seus programas favoritos, acrescentando ao que sabem, novas informações. Para Jenkins, ninguém sabe de tudo, mas pode trocar conhecimento com outras pessoas a fim de saberem mais (inteligência coletiva). Confira a lista de três aplicativos que permitem aos usuários ter todos os episódios de sua série favorita a disposição, podendo ver e rever quando quiser e comentar com outros fãs suas experiências.

Como vimos, a internet revolucionou a cultural mundial e a forma como nos relacionamos com os objetos e com o outro. Sendo assim, não podemos considerá-la apenas uma mídia (como rádio, TV e livro), "a internet é um ambiente", como diz o professor André Lemos no seu livro "Cibercultura, Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea".

Mas será que sabemos como ela realmente funciona? O vídeo abaixo é bem interessante e explica o básico desse universo onde os aplicativos estão mergulhados. Deem uma olhada!




Manuel Castells, no seu livro "Inovação, liberdade e poder na era da informação" é otimista, assim como Jenkins, em relação a democratização proporcionada pela internet. Ambos entendem que o poder do produtor e do consumidor se misturam, graças ao alto poder de interação e democratização (um dos seus grandes diferenciais!!) das novas mídias. 

A interação dos usuário com a internet pode ter várias intensidades e impactos; vai desde postar um tutorial caseiro no youtube, anotar as parte do livro que mais gosta no aplicativo Ebook Reader, até a criação de empresas startups. Muitas dessas empresas têm a tecnologia com meio de fazer seu negócio funcionar, podendo trabalhar na criação de softwares (que inclui os aplicativos) e hardwares. Isso porque elas precisam ser uma modelo de negócio que cresça rápido com baixo investimento e a internet é um ótimo caminho para baratear os custos. 

O site e aplicativo Onde Fui Roubado, por exemplo, é uma startup criada por estudantes de computação da Ufba, Márcio Vicente e Filipe Norton. O principal objetivo da plataforma é mapear os principais pontos de violência da cidade, através das denúncias de usuários que podem indicar, em anonimato, onde, quando e como foram assaltados.

É interessante notar que esse é um bom exemplo de como a teoria da Cultura da Convergência acerta quando trata da relação dos papéis de produtor e consumidor. Os criadores do Onde Fui Roubado eram, inicialmente, consumidores e tornaram-se produtores a partir do momento que criaram a plataforma que, por sua vez, dá aos seus usuários poder para serem co-produtores do conteúdo. Inclusive, sem essa interação, a ideia não daria certo.

Assim, entendemos que a internet possibilita a qualquer usuário o poder de produzir conteúdo. Porém, com as velhas mídias, era possível produzir conteúdo também. Eu podia ter um diário, escrever um livro (mesmo que não publicasse) ou me gravar cantando num gravador analógico. Porém, esses meios não possibilitavam o alcance mundial da minha produção. Através de um sistema livre composto por diversas redes, onde a informação que eu produzo circula por todas essas redes e chega a milhares de pessoas diferentes.

Rede é quando duas coisas (pessoas, computadores) funcionam juntos a partir de "acordos" estabelecidos entre as parte, de forma que ambos se entendam. A internet, por exemplo, é um conjunto de muitas redes de dispositivos com acesso a ela. Ela se utiliza do Protocolo IP (explicado no vídeo acima) para uniformizar a linguagem, facilitando a comunicação entre as partes. 

Viver em rede não é uma característica atual. Todas as sociedades se constituíram assim. Inclusive, a origem da palavra sociedade vem do latim 'societas', uma "associação amistosa com outros", ou seja, formação de uma rede. O termo "rede social" é usado incorretamente, pois todo social já pressupõe uma rede. A forma mais correta de chamarmos facebook, instagram e twitter, por exemplo, seria: site de rede social.




REFERÊNCIAS: 

Artigos e Livros 
  • http://www.dgz.org.br/jun07/Art_03.htm 
  • http://www.editoraaleph.com.br/site/media/catalog/product/f/i/file_1.pdf 
  • http://pt.scribd.com/doc/2620279/cibercultura#scribd 
  • http://pt.slideshare.net/ValdriaSouza/manuel-castells-inovao-liberdade-e-poder-na-era-da-informao

Sites
  • http://cio.com.br/tecnologia/2014/09/01/apps-contextuais-sao-o-novo-modelo-dos-aplicativos-moveis/
  • https://glossariodamidia.wordpress.com/2011/06/29/os-meios-de-comunicacao-como-extensoes-do-homem/
  • https://aboutmarshallmcluhan.wordpress.com/category/aldeia-global/
  • http://www.revistapronews.com.br/edicoes/111/mat_cocooning.html
Vídeos 
  • https://www.youtube.com/watch?v=mBsWb5TWXUQ&spfreload=1
  • https://www.youtube.com/watch?v=E4gcWJaw8aQ&feature=youtu.be
  • https://www.youtube.com/watch?v=yyY_392Tn7Q&feature=youtu.be&list=FL9lL-NgF-knFoHmRzjdFHow
  • http://zip.net/bjq5PW * (vídeo sobre tecnologias TED)
*link encurtado