sexta-feira, 24 de abril de 2015

A Era do Conteúdo Digital: novidades, vantagens e desafios

Graças aos novos formatos de mídia na internet, a produção de conteúdo digital se expandiu e continua se expandindo progressivamente. Mas, afinal, o que vem a ser conteúdo digital? É todo aquele conteúdo disponível em plataformas digitais, que tem por característica vantagens técnicas em relação ao conteúdo analógico, como: facilidade de produção, reprodução e manipulação. 

Num vídeo sobre obsolescência da educação, Manuell Castells cita um trabalho de um aluno publicado na Revista Science, no qual calculou que 97% da informação do planeta está hoje digitalizada e 80% dela se encontra na internet. As tais facilidades de reprodução digital rapidamente se tornaram um problema para a gestão de direitos autorais, justo que se consolidou como um modo muito mais fácil de gerar cópias, o que, na prática, acabou por favorecer o mercado de pirataria. 

A batalha dos artistas em receber direitos autorais pelas músicas disponibilizadas no Youtube está agora nas mãos da justiça brasileira. O Google está há 27 meses sem pagá-los. Em sua página no Facebook a cantora Mallu Magalhães desabafou: "Sou filha da internet e otimista por natureza. Mas tenho perdido a fé que de os gigantes finalmente demonstrem respeito e honestidade não só aos músicos como a todos os produtores de conteúdo. Não é nada justo que o veículo, que depende do conteúdo, seja o único remunerado do negócio".

A sede por conteúdos gratuitos está refletida na pesquisa Internet Pop, do Ibope Media, realizada no ano passado. Segundo a mesma, a maioria dos brasileiros consome apenas conteúdo digital de graça. Essa fatia corresponde a 75% de usuários de smartphones (três em cada quatro donos de aparelhos) que preferem usar apenas aplicativos gratuitos. Somente 14% deles acessam serviços pagos de vídeo, como o Netflix. Por conta disso, a gerente de Learning & Insights do Ipobe Media, Juliana Sawaia, alerta que desenvolvedores de aplicativos precisam pensar no valor agregado do produto. "Se este promete trazer uma resposta que um grande público espera, é possível cobrar algo em torno de dois dólares, por exemplo, mas tudo depende do produto", aponta ela. 

A emergência de dispositivos móveis, bem como o consequente surgimento de aplicativos móveis, fez expandir a produção de conteúdo em convergência. A distribuição de conteúdos em multiplataformas ainda se encontra numa fase de transição, com adequação destes às interfaces, mas pouca exploração dos potenciais dos sistemas móveis. Fazer os conteúdos irem além, cruzar outras mídias (crossmedia), é algo que está acontecendo gradualmente. Lançado há pouco tempo pelo Twitter, o aplicativo Periscope entra nessa perspectiva. Com ele é possível produzir vídeos de acontecimentos ao vivo e a transmissão se dá através do microblog. 

Como produtores de conteúdo, os jornais estão enfrentando desafios na convergência para estes formatos. Recentemente, o Google reformou o algoritmo de exibição de sites. Agora, além de ter design adequado, as páginas deverão ser otimizadas para carregar em smartphones. As que não se adaptarem a esse modelo não serão ranqueadas entre os primeiros resultados. Segundo o próprio Google, essa é uma resposta à tendência de uso dos dispositivos móveis em relação aos browsers. Para o jornalismo, o trabalho por trás de desenvolvimento SEO* é dispendioso, pois além de jornalistas e designers, agora são necessários programadores. Os jornalistas do agora e do futuro precisam se preparar. Para Raju Narisetti, vice-presidente sênior da News Corporations, é preciso também pensar em fazer as notícias chegarem ao leitor, já que com o advento das redes sociais, principalmente o Facebook, o público já não se empenha em buscar a notícia.

*Search Engine Optimization (SEO) é um conjunto de métodos que visam melhorar o posicionamento de suas páginas no mecanismo de busca e também técnicas capazes de alterar ou melhorar aspectos internos de um site.

Jornais baianos. Apenas A Tarde e Tribuna da Bahia estão otimizados para mobile.

O momento sociocultural é favorável ao mercado móvel e a publicidade já está atenta a esse nicho. Para continuar faturando com a produção de conteúdo, sites, jornais, revistas e outros veículos de comunicação apostaram na convergência para o meio digital. O paywall, por exemplo, é um sistema de ganho por assinatura baseado na oferta de conteúdos digitais restritos. Essa foi uma das formas encontradas de se diversificar a receita após a diminuição das tiragens impressas. A Folha de S. Paulo é um dos jornais que adotam paywall no Brasil, ela oferece um limite de acesso de até 20 páginas mensais. Essa alternativa de disponibilizar uma demonstração do conteúdo de forma gratuita se configura como uma estratégia para que o usuário deseje adquirir assinatura com maior limite. 

O conceito de mídia, incluindo as móveis, está cada vez mais complexo no contexto de inovação digital. Surge um novo sistema de comunicações em que se fala de cultura de participação. As narrativas estão cada dia mais democráticas, o que quer dizer que qualquer um que possua acesso à internet pode disseminar conteúdo através dos mais diversos canais. Inteligência coletiva, meus amigos. O mundo está conectado, eis a era digital. Um comercial no mínimo divertido produzido pela MTS anuncia esses novos tempos em que já "nascemos super conectados":

  

Fontes:
BARBOSA, Suzana. ; SILVA, Fernando Firmino da ; NOGUEIRA, Leila. . Análise da convergência de conteúdos em produtos jornalísticos com presença multiplataforma. Mídia e Cotidiano, v. v.2, p. 139-162, 2013.
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